Hello beautiful people!
Era assim que minha irmã nos chamava quase todas as manhãs enquanto estivemos na Disney. E como ando com saudades da nossa viagem em família, resolvi contar um pouco sobre essa experiência que aconteceu em outubro de 2011.
Foi a primeira vez da família em Orlando, e também a primeira vez em muito tempo que viajávamos a lazer. Como ao longo dos anos havíamos passado por momentos delicados, essa seria, ao meu ver, a oportunidade perfeita para uma reunião, no sentido mais literal da palavra. Não que a Disney fosse a solução dos problemas da rotina familiar, mas uma viagem como esta poderia sim render muitos frutos no que diz respeito à união de pais, filhos e irmãos. O nosso saldo foi positivo e voltamos muito mais próximos uns dos outros, cheios de memórias que só nós entenderíamos. Vou contar então o que aprendi ao viajar com minha família.
Em primeiro lugar, quando pensamos em nossos passageiros, nem sempre sabemos de suas histórias ou do que os motivou a viajar; pode ser mais uma entre muitas das viagens da família, ou pode ser aquela viagem, aquele momento único em que essas pessoas buscam se reconectar. Nosso trabalho é permitir que eles se unam, evitando o desgaste em função de situações bobas e extraindo o melhor de cada passageiro, não só para que este passageiro se sinta feliz, mas para que seja reconhecido por seus companheiros como peça importante na dinâmica daquele grupo. É nossa tarefa propiciar momentos em que todos se destaquem pelo que tem de bom – conhece a história do santo de casa que não faz milagres? Como guias, somos os “santos vizinhos” e podemos mostrar o que só eles mesmos não enxergam em função de sua rotina estressante.
Não sei dizer se fui esse “santo vizinho” durante aqueles dias, já que eu era parte do grupo, mas confesso que fiquei surpresa com os resultados, e com o quanto eles podem ser imediatos! Fiquei comovida ao ver meus pais de mãos dadas, apertadas, no momento em que o avião decolou rumo a Miami – depois de tantos anos se ranhetando como dizia minha mãe, ali estavam eles: compartilhando o mesmo medo de voar, como se confortassem um ao outro naquele momento. Essa imagem durou segundos, o medo de voar passou assim que a comissária começou a servir o jantar, mas a lembrança com certeza ficou marcada em minha memória.
Em segundo lugar, aprendi que: se você trabalha com turismo, mesmo estando de férias, você SEMPRE será o guia, seja porque você naturalmente assuma essa posição, ou seja porque eles esperam que você o faça. No meu caso, me incluo nas duas categorias.
Nessas horas, é preciso ter tato e paciência. Primeiro porque o que é óbvio para você não é óbvio para as pessoas, e segundo porque se trata de SUA família, as pessoas com quem você mais se importa no mundo todo, e certamente, você não quer decepcioná-las. A vontade é que eles conheçam tudo o que você gosta e conhece, mas nem sempre eles estão no mesmo pique ou procuram as mesmas coisas… conseguir equilibrar as suas expectativas com as deles é essencial; deixar de lado as suas expectativas para satisfazer as deles, isso é o que transforma a sua viagem em nossa viagem e esse é o objetivo. Num determinado dia, cancelamos um jantar num restaurante ma-ra-vi-lho-so, e admito: assistir seriados americanos comendo besteiras com minhas irmãs foi com certeza bem mais divertido. Queridos guias, recado para vocês: mudar os planos no DAY-BY-DAY faz bem e não tira pedaços, ok?
Por fim, aprendi que as minhas expectativas não são e jamais serão iguais as expectativas dos outros, simplesmente porque as minhas experiências e memórias são únicas, todas minhas, e não foram vividas por eles. Aprendi que apesar dessa diferença de expectativas, é possível se emocionar como na primeira vez, porque no fundo cada viagem acaba sendo uma primeira vez para alguma coisa. Entendi isso quando visitamos o Magic Kingdom, o parque que para mim sempre foi o símbolo máximo da realização de sonhos.
Chegamos cedo para assistir à abertura, fotografamos diversas vezes em frente ao castelo, passamos por dentro dele admirando os lindos mosaicos que contam a história de Cinderella e, já do outro lado, literalmente na terra da fantasia, nenhuma lagrimazinha de emoção, em nenhum dos meus familiares. Estar diante do castelo com minha família era um momento esperado há muito tempo, ao menos por mim… por isso fiquei um pouco frustrada quando não notei neles a mesma empolgação que eu sentia. Eles estavam animados sim, mas aquele momento certamente tinha um peso diferente para nós – a minha expectativa baseada em todas as memórias que eu carregava até ali, e as expectativas deles, que visitavam o lugar pela primeira vez.
Ao levar pessoas a lugares que você já conhece e gosta muito, lembre-se que por mais felizes que seus companheiros de viagem estejam em compartilhar determinado momento contigo, se eles não tiveram as mesmas experiências, não terão as mesmas expectativas, e não há porque se frustrar. Pelo contrário, divirta-se e reviva as emoções com eles como se fosse sua primeira vez! E foi assim, como se fosse a primeira vez, que levei meus pais e irmãs até Splash Mountain. Me perguntaram: molha muito?! Minha resposta, obviamente, foi simples: claaaaro que não!
Passamos um dia muito agradável, nos divertimos muito, e por fim, chegou a hora dos fogos. Quem me conhece e conhece a Disney sabe o quanto Wishes é especial. Eu pensava: agora eles se derretem! Que nada. Acharam o show incrível, mas só isso. Já eu…
Sempre que chego ao Magic Kingdom tenho o hábito de fazer um pedido no castelo, mas nesse dia as coisas foram muito diferentes. Minha felicidade em estar ali com aquelas pessoas era tanta, que senti como se estivesse completa, não havia nada que eu desejasse, absolutamente nada que eu quisesse pedir. Naquele momento, eu era completa e plenamente feliz, grata a Deus pela oportunidade de reunir a família num lugar tão mágico e especial. Essa sensação chama-se emoção, e vivi cada pedacinho dela com os olhos cheios de lágrimas. Embora já tivesse assistido aquele espetáculo por diversas vezes, aquela apresentação de Wishes foi com certeza muito marcante.
É sempre muito gostoso relembrar e contar momentos felizes, como estou fazendo agora. E é justamente por isso que precisamos nos render, mesmo que por poucos instantes, à emoção de viver esses momentos felizes com nossos passageiros. É disso que eles se lembrarão quando voltarem para casa e é um privilégio enorme fazer parte das memórias de viagem das pessoas, mesmo quando essas memórias nada tiverem a ver com as nossas – todos somos tocados de maneira diferente, e não há nada de errado nisso.
Ao final, nós guias fazemos a diferença. Isso porque nos rendemos, nos divertimos, curtimos a viagem JUNTO com os passageiros, respeitando e atendendo as necessidades e peculiaridades de cada um. É preciso então que a gente se deixe emocionar, sempre e nos pequenos detalhes que uma viagem a Orlando nos proporciona. Pense bem… o que é mais fácil: somar vários pedacinhos de felicidade ao longo do dia ou passar esse dia inteiro esperando uma felicidadezona enorme e extraordinária?
Boa semana a todos, até a próxima.
Luciana Ribeiro
Change Treinamento em Turismo