Nesta matéria o site Viajando para Orlando traz o relato que nos foi enviado por Lívia Silveira, 20 anos, estudante de turismo cursando o 3º. Ano da Universidade Anhembi Morumbi – São Paulo que trabalhou na Disney como cast member durante o período de novembro de 2005 a fevereiro de 2006, vejamos:Desde o meu 1º colegial eu tinha esse sonho, trabalhar no maior complexo de entretenimento do mundo e fui buscá-lo aos 19 anos, cursando o 2º ano da faculdade, na primeira oportunidade que tive de participar da seletiva. Fui recusada de primeira, talvez pelo fato de que eu estava extremamente nervosa frente à, por mim considerada, maior oportunidade da minha vida. Fiquei muito triste, decepcionada, mas lutei até o fim pelo que eu queria. Soube de uma nova oportunidade, um mês depois da data em que me recusaram, ainda tinham mais algumas vagas e a Disney estava reconsiderando os brasileiros. Lá estava eu novamente, pronta para encarar uma bateria de perguntas em entrevistas feitas em inglês.
Desde pequena eu passo alguns dias de janeiro na Flórida, acho que meu pai gostaria de morar por lá, nós já fomos 14 vezes! Sei que é um absurdo, muitas vezes nem fomos em parques, nem ficamos em Orlando por muito tempo. Sempre alugamos um carro e fazemos viagens pela costa, passamos uns dias em Miami, Daytona Beach, Cocoa Beach, Melbourne, Clearwater, St Petesburg, dormimos em hotéis de beira de estrada… a verdade é que eu não trocaria isso por nada!
Com tantas informações para dar e com tanto conhecimento para mostrar eu posso dizer que dei o melhor de mim, passei da primeira entrevista, passei pela entrevista com o time da Disney e ainda por cima recebi a melhor informação do mundo por telefone alguns dias depois: eu consegui passar na seletiva para a função que eu queria, Operações e Atrações nos parques. Essa função é a mais concorrida entre os participantes, entre Merchandise, Alimentos e Bebidas, se fantasiar de personagem e Limpeza, Operações está em primeiro lugar na lista dos mais disputados. Muitas pessoas preferem nem se candidatar, muitas pessoas preferem Limpeza ou Merchan, mas eu e o meu Disney Dream sempre quisemos Operações.
Depois disso veio o grande frio na barriga, um que eu nunca poderei descrever, eu estava prestes a embarcar para o lugar em que mais me sinto feliz em todo o planeta! Ao mesmo tempo era tanta insegurança, tantas dúvidas. Embarquei no dia 20 de novembro, quando cheguei lá fui direto para o Vista Way, o condomínio de cast members mais antigo da Disney. Lá fiquei sabendo onde iria morar, com quem iria morar, onde iria trabalhar, passei por filas e filas para fazer a identidade de cast member, a identidade do condomínio, me entregaram a chave de casa e assisti a umas três palestras informativas. Foi um longo dia assinando papéis, contratos, lendo regras de moradia, de transportes, ufa!!! Mas outra grande informação para completar o sonho: eu estava na grande lista de nomes e pontos de trabalho como “Lívia Silveira – Operations – Main Street – Magic Kingdom“. Não consegui conter a emoção, chorei mesmo, sem acreditar que tudo aquilo estava acontecendo.
Peguei um ônibus do Vista Way até o Treehouse Villas, o condomínio em que morei. Chegando lá tomei um susto, o lugar é uma floresta, cheio de esquilos, coelhos e até um pavão circulando pelas ruas entre as árvores. Demorei a acostumar com a minha casa na árvore, mas depois se tornou perfeita. O Treehouse Villas é um hotel desativado da Disney que se tornou o 4º condomínio para cast members reinaugurado pelo meu grupo em novembro do ano passado. São 60 casas de dois andares que imitam casas de árvore em meio a um lugar cheio de verde e ar puro. A minha era a única casa que dava de frente para a piscina do condomínio, as paredes de vidro nos davam uma vista linda de um campo de golfe enorme. Morei com mais cinco meninas, duas de São Paulo como eu, uma de Belo Horizonte, uma de Curitiba e uma de Brasília. Houveram alguns desentendimentos e nós tivemos que fazer as “regras da casa”, mas nada que acabasse com a harmonia lá dentro.
Quando cheguei ao meu primeiro dia de trabalho fiquei mais uma vez assustada, todas as pessoas receberam treinamento para exercer apenas uma função a que foram destinadas, mas eu lia e relia o meu “itinerário” e lá estavam agendados três treinamentos para três funções diferentes.
Resumindo: eu tive três uniformes fixos, o de Park Greeter, onde eu ficava na área das catracas fazendo a entrada e saída dos visitantes e dando informações; o de PAC, onde eu fazia o controle das paradas e do show de fogos e o de Wristbander, função de quem coloca as pulseirinhas nos visitantes que têm direito a Extra Magic Hours ou que têm o ingresso para festas especiais como a Mickey Very Marry Christmas.
Foram três meses maravilhosos, conhecendo pessoas do mundo inteiro e podendo praticar meu inglês. Costumava passar mais tempo trabalhando nas paradas na Main Street e mesmo depois de ter visto umas quinhentas vezes as mesmas paradas e o Wishes continuo me emocionando, como se cada vez fosse única. Estive naquela rua em dias de sol, em dias de chuva, com enfeites de natal, com luzes, com neve e mesmo assim foi impossível desviar os olhos, é realmente mágico.
A experiência foi curta, mas a palavra que descreve é intensa. Tudo o que eu sentia estava multiplicado por mil! As tristezas, alegrias, frustrações, ansiedades, TUDO estava mais intenso. Chegamos sem conhecer ninguém, sem saber o que estava por vir, sem nenhum ombro conhecido para chorar quando a coisa apertasse. Encontramos uns nos outros mães, pais e irmãos. Passamos o natal juntos, o reveillon, rezamos juntos, rimos muito e choramos mais ainda… mas sempre juntos. Fiz de fato uma grande família.
Acredito que uma vez cast member, sempre cast member. Nunca mais vou conseguir entrar no Magic Kingdom e olhar para o parque com olhos de visitante agora que sei o que há por trás daquelas paredes ou abaixo daquelas ruas.
Nunca me senti tão feliz na vida como naqueles meses, espero que um dia outra oportunidade dessas aconteça e que eu possa voltar a trabalhar naquele lugar. Mas esse é outro sonho.
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