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Queridos leitores do VPO, que saudade!

Tenho aparecido pouco, mas ando vivendo tanta coisa nova, tanta coisa boa! Vocês acreditam que, além de algumas compras e muitas lembranças, eu e meu marido voltamos da Disney grávidos?! Mal tive tempo de sofrer de DPD (a famosa depressão pós disney), cheguei já tendo essa novidade maravilhosa pra contar e desde então, tudo mudou.



De qualquer forma, já faz tempo que gostaria de trazer um assunto para discussão: quando em Orlando, o guia também pode ser motorista? Depois de ter a experiência de, além de conduzir o grupo ao longo do roteiro nos EUA, ser também a motorista do grupo, achei que seria muito válido trazer algumas considerações, e devo lembrar que estou me baseando na MINHA experiência, e que qualquer outro profissional pode ter vivenciado tudo isso de maneiras diferentes, com pontos de vista diferentes, ok?

Bom, viajei como um pequeno grupo de 13 passageiros, e por questões diversas, a operadora optou por utilizarmos uma van como nosso meio de transporte – era aquela van grandona de 15 lugares, mais ou menos como essa da foto aqui embaixo.

Como eu já estava habituada a dirigir em Orlando, não precisava me preocupar quanto aos caminhos que iria fazer e ter um GPS seria dispensável, bastou apenas me adaptar ao tamanho do automóvel, maior do que qualquer outro que eu já tinha experimentado. Foi preciso apenas redobrar a atenção na hora de fazer as curvas e de estacionar, pois a van é bem mais longa do que os nossos carros comuns. Porém, se você não tem tanta experiência e não conhece tão bem a cidade, prepare-se muito bem quanto aos trajetos a serem realizados: além da responsabilidade natural pela segurança e bem-estar de todos, você ainda sofrerá, mesmo que de leve, uma certa pressão para não errar o caminho, afinal de contas, quanto mais tempo rodando na rua, menos tempo o grupo aproveita nos parques. Já pensou se você se perde?

Por se tratar de um automóvel menos utilizado por turistas, não é tão simples encontrar uma van deste porte para retirada em qualquer locadora, tive que retirar no aeroporto de Orlando, e eis aqui nosso primeiro desafio: como transportar passageiros e malas num automóvel feito apenas para pessoas? É claro que não caberia, e por isso a solução foi utilizarmos o traslado da Disney até o hotel (já que nos hospedamos dentro do complexo) para que depois eu retornasse ao aeroporto e voltasse motorizada.

Quanto a documentação, o processo foi semelhante ao que aconteceria com um carro menor. Apresentei minha habilitação brasileira, meu passaporte, meu cartão de crédito, e pronto! Não há necessidade de habilitação especial para van, bastava apenas que meus documentos estivessem válidos. Ah! Importante: mesmo que a empresa seja a responsável pelas despesas da locação e mesmo que tudo já esteja pré-pago, ainda assim você será obrigado a apresentar um cartão de crédito internacional em seu nome, então vá preparado tendo cartão previamente liberado junto à operadora no Brasil e com limite disponível. Caso você não utilize cartão de crédito, converse com seu contratante e verifique o que pode ser feito.

Em relação ao tamanho da van: é um carro confortável e seguro para 15 passageiros, mas não há praticamente nenhum espaço de porta-malas, sendo o fundo embaixo do último banco insuficiente quando o assunto é a quantidade de sacolas de um grupo de turistas em Orlando. Diante do fato, imaginem como foi retornar do Wal Mart e dos shoppings!

Por mais que o guia avise o pessoal quanto a falta de espaço, por mais que os passageiros vejam com seus próprios olhos que não há onde transportar tantas sacolas, como impedir que eles façam suas compras? A solução aqui foi a contratação de uma segunda van para os dias de shopping, de forma que todos pudessem transportar seus novos pertences com um pouquinho mais de conforto. Felizmente, tive a sorte de encontrar um grupo muito bonzinho e até muito contido nos gastos, mas e se, por exemplo, eu tivesse me deparado com um grupo de mães fazendo enxoval para seus bebês? Se cada uma resolvesse comprar um carrinho, o que faríamos?

Entre outros fatores, o perfil do grupo é algo que deve ser levado em conta no momento em que a operação determina o tipo de transporte – ao guia caberá apenas executar, e em 99,9% das vezes ele não tem autonomia nenhuma (e nem reserva financeira) para assumir despesas extras em função de desafios relacionados ao meio de transporte escolhido. Seja como for a orientação dos passageiros no Brasil por quem realizou a venda, sobra para o guia atuar com bom senso e muito jeitinho na hora de resolver esses problemas de falta de espaço… então, vale a pena conversar com o grupo, criar um clima de colaboração e incentivar que sejam práticos na armazenagem das compras. Uma boa dica é que os passageiros levem mochilas e se desfaçam de sacolas, isso ajuda a reduzir o peso e o volume não só na volta ao hotel dentro da van, como na hora das compras também.

Ah! Atente-se para este detalhe, que pode acontecer com você também: quando se tem o próprio meio de transporte, também se ganha em flexibilidade. Você acaba tendo mais liberdade quanto aos horários de saída e retorno, MAS, também vai ter sempre alguém querendo “dar uma passadinha” em algum lugar que não está incluso no roteiro. Converse com seu contratante e verifique como deve proceder, pois atender as demandas extras pode ser um grande tiro no pé! Você agrada ao passageiro, mas atrapalha toda a programação, e isso normalmente afeta o grupo todo. Nem todo mundo fica feliz e você pode acabar gerando mais frustração do que satisfação. Tenha cuidado.

Por fim, acho que um dos pontos mais relevantes é: você está preparado para lidar com a responsabilidade? Você terá paciência para encarar o trânsito de todos os dias, na ida e na volta? Você terá um auxiliar para dividir a carga com você? Você terá tempo para descansar? Ao meu ver, e reforço que esta é a minha opinião pessoal, um guia não deveria ser o responsável pelo volante, especialmente se não houver um auxiliar junto com ele. O trabalho do guia por si só já é muito desgastante, requer muita resistência física e muito equilíbrio emocional… por mais incrível que o dia tenha sido no parque, é inevitável que o guia chegue ao final das atividades esgotado, sem energia. Será que este guia estará bem-disposto para conduzir seu grupo com segurança todos os dias, especialmente na volta? Pegar estrada e transportar pessoas é coisa mais séria do que parece, e acho fundamental que qualquer guia pondere a questão antes de aceitar o trabalho.

Para quem encara o desafio então, algumas dicas práticas:

  1. Tenha sua habilitação sempre em dia e converse direitinho com a empresa quanto as despesas relacionadas ao uso da van/carro como meio de transporte. Informe-se sobre a cobrança de pedágios, verifique como serão pagas as despesas de estacionamento e combustível e fale sobre o uso do seu cartão de crédito – pode ser que você precise dele para suas despesas e não haja limite suficiente, então não deixe de esclarecer direitinho essa questão!
  2. Já que falamos em estacionamento… na hora de marcar o horário de saída matinal, calcule e inclua em seu roteiro um tempo extra para o estacionamento. Ao invés de ser deixado “na porta” com seu grupo, vocês terão que seguir o fluxo na hora de estacionar e caminhar até a entrada, o que costuma levar mais tempo – eu costumo adicionar meia hora. Caso não queiram sair mais cedo, esteja ciente de que isso pode afetar seu tempo no parque.
  3. Nunca deixe seu automóvel com o tanque na reserva! Faça o possível para abastecer sem o grupo, em momentos nos quais eles estejam descansando no hotel ou mesmo durante o tour de compras, caso possa se ausentar. É muito comum que os postos, especialmente aqueles no caminho para os parques, fiquem cheios nos horários de entrada e saída, então tente evitar o rush e programe-se adequadamente levando em conta que o trânsito pode atrapalhar um pouquinho.
  4. Caso tenha em seu grupo idosos ou pessoas com problema nas pernas, providencie uma daquelas escadinhas para o embarque, pois as vans costumam ser mais altas para entrar. Ajude-os na hora de descer também, segurando-os pelas mãos até que estejam firmes no chão.
  5. Jamais saia sem ter a certeza de que todos estão com os cintos de segurança afivelados.
  6. Estabeleça com seus passageiros uma rotina de limpeza de forma que, a cada vez que deixarem a van, recolham seu lixo e objetos que deverão voltar para o quarto. Isso ajuda a reduzir os esquecimentos e deixa o visual mais aconchegante – mesmo assim, faça você uma boa verificação todas as noites, eles sempre deixam alguma coisa passar! Ah, e se possível, compre aqueles cheirinhos para carros, eles deixam um odor agradável e todos saberão que você se importa com seu bem-estar e conforto.
  7. Prepare-se quanto ao repertório musical e organize-se com o grupo de forma que todos os gostos possam ser atendidos igualmente – pesquise as rádios locais e tenha sempre em mãos um pen drive ou um daqueles cabos que conectam com o celular, sempre haverá alguem querendo bancar o DJ e a experiência pode ser muito divertida!
  8. Caso ainda não conheça as leis de trânsito locais, informe-se. Você deve andar na linha e não vai querer correr o risco de ser multado por puro desconhecimento, certo?
  9. Prepare-se bem quanto as rotas a serem seguidas, tenha em seu celular aplicativos como o Waze, Here ou Google Maps para seu direcionamento e não deixe de utilizar o GPS já fornecido pela locadora. Como um reforço, estude o mapa local e o trajeto a ser feito no dia seguinte.
  10. DESCANSE sempre que possível e durma bem, você precisa estar disposto para dirigir também.

Então é isso. Boa sorte e muito cuidado!

Luciana Ribeiro
Change Treinamento em Turismo

 

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